Esperamos que todos vós tenhais passado um bom dia de Natal e que este tempo que ainda permaneça cheio deste espírito.
Da nossa parte podemos dizer que tivemos um bom Natal, graças a Deus, ainda que algo atribulado.
Tínhamos subido para a Donga na quinta-feira, 19 de Dezembro. No sábado fomos de camião para aldeia do Calipe, que fica a 16 km da Donga, numa viagem que durou cerca de uma hora e meia. Durante o percurso demos boleia a várias pessoas que tinham o mesmo destino que o nosso e pudemos ver muitos campos semeados de milho e feijão a manifestarem uma necessidade urgente de água.
Celebrámos o domingo na comunidade acima referida e depois do almoço regressámos à Donga com o camião carregado de pessoas, principalmente idosos, mulheres e crianças, suas cargas e ainda de outras pessoas para as quais já não havia lugar. Mas pelo caminho ainda fizemos de carro vassoura recolhendo os que ficaram para trás. Foram tantos a pedir boleia com aqueles olhares tristes que a equipa missionária decidiu ir a pé para dar lugar aos mais frágeis. Mas depois surgiram uns motoqueiros generosos que os “rebocaram” e ainda chegaram primeiro.
A segunda-feira foi dia de preparação espiritual para o Natal: houve dois retiros, um para os jovens, outro para os catequistas, mas aberto a todos. Durante o dia foram chegando sempre mais pessoas, algumas de mota, a maioria a pé, com as suas cargas às costas e à cabeça, muitas delas, como é habitual, percorrendo dezenas de quilómetros a pé. Também muitas crianças e adolescentes marcaram presença, acompanhando os seus pais.
Na madrugada de terça-feira acordámos com o barulho da chuva nos telhados. Foi um incómodo para alguns que já não tiveram lugar no salão, mas também sentimos que era uma bênção e um autêntico presente do menino Jesus que ia nascer.
A véspera do dia de Natal foi marcada pela preparação dos espaços para a celebração ( com rede sombreira), para mais algumas pessoas dormirem (com lonas), busca de lenha, limpeza dos espaços da missão, celebração das confissões, fabrico de pão, atendimento de cantinas (este ano já tivemos a funcionar uma cantina de bens alimentares o que deu uma grande ajuda às pessoas), distribuição de livros pelos maiores e de brinquedos pelos mais pequenos e ainda jogos e brincadeiras com estes, encontro com os pais das crianças que iriam ser batizadas, entre outras atividades.
A missa da noite de Natal teve início por volta das 21:00 horas, iluminada por cinco lâmpadas ligadas ao nosso gerador, mas com muito brilho interior pela festa que estávamos a celebrar. Quanto à luz das lâmpadas, embora fosse benéfica, tínhamos que fugir dela: eram milhares de insetos à volta de cada uma das lâmpadas e que também vinham para cima de nós (para mais tinha chovido).
Depois da missa a animação continuou com mais alguns cânticos e danças que manifestavam a alegria das pessoas.
Mas, subitamente, todos fugiram porque começou a chover. Os espaços cobertos estavam superlotados; os que estavam nas varandas da casa e ao ar livre começaram a procurar outros lugares, mas não havia muito por onde. Cada um com os seus panos, e trouxas nas mãos à procura de um melhor lugar.
Era Natal e nós, equipa, depois de um tempo diálogo, e como a chuva persistia, abrimos as portas da nossa cozinha e sala, do cavalinho, do camião (cobrimos a carroçaria com a lona) e lá se improvisaram mais alguns lugares para umas quantas pessoas. Nessa noite dormimos três horas.
O dia de Natal começou com a oração da manhã e continuou com muitas dúvidas sobre o local da celebração: no salão era mais seguro por causa da chuva, mas metade das pessoas ficava de fora… a apanhar chuva se ela caísse. Assim, a missa que estava marcada para as 8:30 h. começou às 10:00 h., debaixo das redes sombreiras das quais ainda tivemos que sacudir a água que tinham acumulado.
Durante a celebração da missa do nascimento de Jesus celebrámos o renascimento de 32 crianças, filhos de casais cristãos, o que deu um toque ainda mais festivo à celebração, toda ela cheia de cânticos e palmas e de outras manifestações de alegria.
Após a missa ainda houve tempo para umas fotografias e arrumar tudo o que se tinha preparado na véspera. Depois foi a “debandada” de cada um para a sua zona de origem com o coração a pular de alegria pelo nascimento de Jesus e pelo belo presente daquela chuva abençoada que veio dar nova vida aos campos semeados. É caso para dizer que a chuva foi um incómodo bem vindo para todos nós.
Hoje vamos à aldeia do Uquende para amanhã lá celebrarmos o Dia da Sagrada Família.
Um abraço para todos e boas despedidas de 2013 e ainda melhores entradas em 2014.
P’la equipa missionária,
P. Vítor Mira