sexta-feira, abril 22, 2022

Semana Santa e Páscoa na Donga


           
Em ordem à celebração da Grande Festa, todos os caminhos foram dar à Donga.

            O silêncio transformou-se num alegre coro de vozes. A nostalgia das pedras negras do Gungo tornou-se um quadro vivo, cheio de cor e beleza em que vida, comunhão e partilha, se fazem realidade e são fonte de verdadeira alegria.   

            Chegada a sexta-feira Santa, logo pela manhã foi tempo do P. Sebastian preparar e encenar com o grupo de jovens a Via Sacra, que tal como a Eucaristia com o ritual do lava-pés foi vivida intensamente por um enorme grupo de pessoas vindas dos mais diversos bairros.

            O recinto, foi albergando todos quanto chegavam e, rapidamente, um mar de gente ocupou o espaço da missão. Cada grupo, escolhendo o seu espaço e em volta da fogueira, conversava, preparava e partilhava as refeições. Aqui a palavra comunhão e partilha faz verdadeiramente sentido.

            Se acreditar é ter a certeza das realidades que os olhos não podem ver, aqui são os olhos do coração a fazer-nos sentir que Deus está verdadeiramente presente.

            Percorridos os passos próprios destes dias, foi em ambiente de muita fé que pudemos vivenciar a Sexta-feira Santa com a celebração da Paixão e adoração da Santa Cruz.

            Chegados ao Sábado Santo, tempo de vigília Pascal, em que os 53 catecúmenos receberam o Batismo, nem mesmo a chuva que começou a cair no final da celebração, que durou das 21:00h até às 00:40h, fez afastar os participantes que permaneceram em festa até de madrugada.

            Após um escasso tempo de descanso, no espaço em que cada um se sentiu confortável, amanheceu o grande dia: o Domingo da Ressurreição. Vestindo as melhores roupas em que as cores fortes são predominantes se fez o anúncio de um dia alegre e, cerca de 800 pessoas, celebraram a Ressurreição do Senhor.

            Presidida pelo P. David Nogueira e concelebrada pelo P. Sebastian a Eucaristia foi o ponto alto da festa. Nela receberam o Sacramento do Matrimónio os quatro casais que se vinham preparando ao longo do tempo e, de seguida, receberam o batismo os filhos destes casais, 6 crianças de colo. Entre cânticos, batuque e danças, foi uma verdadeira explosão de alegria. Nem mesmo as crianças manifestavam cansaço ou vontade de desistir.

            Após a celebração, chegou a hora de partir e aproveitar a vinda à missão para fazer uma consulta ou curar algumas feridas físicas já que as da alma estavam curadas pela felicidade sentida ao longo destes dias.

            Estar neste lugar, trocando as nossas certezas pelo desconhecido tão surpreendente, é sentirmo-nos gratos por estar aqui e vivenciar esta experiência.

 

Pela Equipa Missionária

Isabel Cabeleira










quarta-feira, abril 13, 2022

As "portas" da semana Santa

 

                No dia 9 de abril, sábado, a equipa missionária, conforme o programa, chegou à Tuma; uma comuna que fica a 90 km do Sumbe para celebrar o domingo de Ramos. Fomos recebidos com cânticos e danças que anunciavam as boas vindas. A tarde foi passada em atividades pastorais que consistiam em encontros de formação para os membros de Legião de Maria e catequistas, Missa vespertina e a recitação do terço.



                No domingo, a missa que se iniciou às 08h30, terminou pelas 11h30. A celebração foi feita na língua local, umbundo, e daí as leituras pareciam mais longas mas o povo escutava-as interessadamente. À saída da missa, a equipa missionária ofereceu às crianças, vestidos trazidos de Portugal o que as deixou muito contentes e mais coloridas. Manifestando gratidão, fizeram questão de acompanhar os missionários recém-chegados na passagem pelas suas ruas, à escolinha e ao campo da bola. Elas manifestavam expressa e inocentemente a saudade que tinham de outros missionários que passaram por cá. Foi um Domingo de Ramos bem diferente de muitos outros que já tínhamos vivido. A alegria, a viva participação, sem pressa, o convívivo entre gente que chegou de outras aldeias, algumas bem distantes, são aspectos que nos deixaram com pontos de interrogação e admiração. 


                Um Domingo de Ramos verdadeiramente diferente, onde a simplicidade e a alegria foi uma realidade que nos contagiou e nos fez antever uma Páscoa bem diferente.










Pela Equipa Missionária
Pe Sebastian Joseph

sábado, abril 09, 2022

Primeiras impressões em missão

Com o Pe Denis SVD Em Luanda

                 Depois de uma pequena pausa em Luanda e de uma noite na sede da missão no Sumbe, eis que chega a hora de partir rumo ao mundo que nos espera: o Gungo. Partimos ao final da tarde com o essencial para viver os nossos primeiros dez dias na missão, conduzidos pelo P. David Nogueira que nos foi falando da paisagem, da história e cultura deste povo.

                Dos 130 km que teríamos de percorrer, os últimos quarenta foram a serpentear em picada estreita, ladeada ora de capim bem alto, ora de árvores e vegetação exuberantes.

No Sumbe
na residência Ondjoyetu
                Já pela calada da noite, passando por várias aldeias, o ruido do novo cavalinho branco (o carro da missão) era o anúncio de que algo diferente estava a acontecer. Quem regressava da lavra, carregando à cabeça o produto do seu trabalho, alimento para a família, parava para nos dar passagem e de repente, vindo de um lugar que a escuridão não nos deixava decifrar, surgia um grupo de crianças, felizes e sorridentes acenando e dizendo chaué!...

                Sentir a alegria que a nossa passagem provoca é algo que nos toca profundamente e nos deixa de coração cheio. Um balão, um rebuçado ou simplesmente um adeus é ter como resposta um obrigado cuja autenticidade se sente no olhar de quem o pronuncia; é algo que não se consegue explicar.

                Depois de uma paragem no bairro de Uquende, serpenteando de novo pela picada cerca de mais de uma hora e meia, eis que chegamos à Donga. Acolhidos com cânticos de boas vindas e porque a noite era já uma realidade, cada um se despediu e ficou apenas o silêncio. Um silêncio que nos invade e nos leva a viajar por mundos onde aquele a que estamos habituados se desvanece por completo.

                Após algumas horas de descanso o canto dos galos e os passos de quem, bem cedinho, se dirige para os trabalhos nos campos, anunciam a chegada do novo dia.

Catecúmenos e padrinhos

                A primeira semana na Donga foi tempo para olhar, escutar, sentir e viver intensamente o que os olhos vêem, os ouvidos escutam e o coração sente. Uma tranquilidade que nos deixa perplexos e nos interpela acerca do nosso conceito de felicidade. Tempo para constatar que é possível ser feliz com muito pouco e tomar consciência de que sabemos muito menos do que pensamos saber.

A sementeira de feijão
                O enorme trabalho desenvolvido na missão em ordem a melhorar as condições de vida do povo, foi também motivo de admiração. Desde a prestação de cuidados básicos de saúde, construção de infraestruturas e implementação de vários projetos em ordem à sustentabilidade nas várias vertentes, nomeadamente a agricultura, a pecuária, a cantina onde é possível adquirir coisas básicas, são formas concretas de simplificar a vida deste povo, onde os meios de comunicação são precários.

                O segundo fim-de-semana na Donga foi repleto de atividades pastorais em ordem à preparação de catecúmenos para a grande festa a realizar na Páscoa. A partir da tarde de 6ª feira, dezenas de crianças, jovens e menos jovens carregando o suficiente para confecionar as refeições foram chegando ao espaço da missão. Um verdadeiro acampamento ao ar livre. Espaço de convívio, partilha, oração e aprendizagem que terminou com a celebração da Eucaristia numa igreja literalmente cheia, não somente de presenças físicas mas de ritmo, alegria e fé.

                Ao início da tarde foi tempo de mais uma caminhada de regresso às aldeias de origem o que para uma boa parte seria caminhar até ao dia seguinte.

                Com um adeus até nos voltarmos a encontrar para celebrar a semana santa e a Páscoa, também para nós foi tempo de regressar ao Sumbe, de onde sairemos para celebrar o domingo de ramos numa outra aldeia: a Tuma.

 


Pela equipa missionária

Isabel Cabeleira