Dois meses no Gungo com o Grupo Missionário Ondjoyetu,
foi antes de mais a concretização de um sonho, várias vezes adiado pela
pandemia.
Não
importa a origem da força que nos move. O importante é sentir essa força,
reconhecer o que nos traz alegria e paz interior, liberdade e coragem para
agir. Partir, sem grandes planos e objetivos, mas de coração disponível para
viver o desafio de aceitar o que vier. Este foi sem dúvida o foco principal.
Em
cada dia passado em Angola, senti a força de uma frase do escritor moçambicano
Mia Couto que passo a citar- “Só é olhado pelo céu quem olha as estrelas”. Em
cada dia e nas mais diversas situações em que tantas coisas positivas
aconteceram, senti esse olhar, que quero acreditar ter vindo do céu.
De facto, olhar as estrelas no silêncio do
Gungo com tudo o que aquele enorme céu tem para oferecer é receber do Alto
muito mais do que possamos imaginar.
Olhar
o pôr-do-sol naquele lugar, é sentir que uma luz Divina nos invade a alma como
uma bênção, nos impõe silêncios mágicos em que sentimos o significado de “ser
feliz com muito pouco”.
No
Gungo, aparentemente no meio do nada, é possível sentir tranquilidade e paz.
Encontrar aventura e surpresa em cada quilómetro de picada percorrido, vida e
beleza em cada quadro vivo que fica gravado na nossa memória.
Construir relação e comunicação em cada
encontro feito de conversas, sorrisos rasgados, mãos agradecidas, olhares
meigos de crianças sedentas de atenção e carinho.
Mais
importante que a avaliação do serviço que efetivamente prestei, foi sentir que
o verdadeiro sentido da existência está em pequeninas coisas que podem fazer
toda a diferença na relação entre povos, apesar da diversidade de hábitos e
culturas. Perceber que a partir do pouco ou muito que fazemos e somos, se pode
crescer e fazer crescer.
Nesse
sentido, o saldo foi francamente positivo. Regressei de coração cheio e
agradeço a todos quantos proporcionaram a minha aproximação a este grupo
missionário, a quem felicito na pessoa do Padre David Nogueira, pelo enorme
serviço que actualmente presta à melhoria das condições de vida das gentes do
Gungo.
Termino
recordando as palavras do Papa Francisco “Seremos julgados com base no amor.
Não sobre os sentimentos, mas sobre as obras; sobre a compaixão que se torna
proximidade e ajuda atenciosa”.
Neste
espírito, é tempo de projetar o futuro. Prestar atenção aos sinais que o nosso
coração dá e acreditar que é possível fazer sempre mais em ordem à construção
de um mundo melhor. O futuro a Deus pertence….
Isabel
Cabeleira