segunda-feira, outubro 14, 2019

Tá duro!


Olá amiguitos de Portugal e de todo o mundo. Aqui a linha da frente mantém-se ativa e de boa saúde. Dizem que o trabalho da saúde. Cá é coisa que não nos falta.
Após a ida do Sr padre David de férias e do regresso dos nossos companheiros a Portugal, de novo no Sumbe, fomos à pesca... A praia do Quicombo é o nosso sítio de eleição para comprar peixe fresquinho que depois tratamos e armazenamos na nossa arca.
Sexta-feira, dia 27 de Setembro, subimos até à sede da Comuna do Gungo, Uquende, e lá permanecemos até segunda. No sábado, junto com a comunidade, fomos varrer e limpar a capela da Pedra Gonga (muitos certamente que a conhecem, foi a capela onde o avô Filipe foi batizado). Esta capela é muito antiga e está a precisar de intervenção, porém é difícil atender com a brevidade com que deveríamos a todas as necessidades. E, assim, a opção foi fecharmos as entradas de maneira a que os animais não se apoderem do edifício e evitar ainda algum possível acidente devido ao chão de madeira do coro alto já estar em muito mau estado.
A capela está sobre uma grande, grande... pedra. Após uma noite bem chuvosa, as nossas crianças agarraram nas vassouras (feitas de vimes) e toca a varrer tudo muito bem. Arrancaram ervas, tiraram paus, desviaram ramos de palmeiras,... e, claro, ainda deu para brincar um bocadinho nas poças de água que se colocavam mesmo no caminho onde iríamos passar. Durante a tarde, fez-se pão caseirinho e aproveitámos o forno para fazer um bolinho de ananás.
No Domingo a comunidade reuniu-se para todos juntos vivermos o culto conduzido pelos catequistas e, no final, aproveitando a presença da equipa, houve a necessidade de cuidar de algumas pessoas com ferimentos. Cortes de catanas, tropeções em pedras, quedas de mota, joelhos esfolados, etc. De tarde a mana Sílvia foi à caça com a pequenada. Cada um com a sua fisga, pedrinhas nos bolsos, e siga… subimos à Pedra Donda (para quem conhece, a que fica ao lado do monte Cavinjo) e como a caça estava escassa, fomos até à lavra do pequeno Inácio. Éramos cerca de 40 e foi uma grande tarde de caça! APANHÁMOS: 2 tortulhos (cogumelos)!
Mas ainda a dor de cabeça estava por chegar… O nosso Elefante (Unimog), avariou! O mano Mário bem tentou, mas tivemos mesmo de o deixar para ser super-hiper-mega-vigiado e guardado pelos nossos “komolas” Ondjoyetus (crianças).
Segunda fomos para a Donga e lá permanecemos até à segunda seguinte. Foi uma semana muito intensa. Elefante (Unimog) avariado, Mula avariada (carrinha de caixa aberta), rebarbadora avariada, moagem da Donga parada à espera de peças, gerador a precisar manutenção, inventário da cantina da missão por fazer, tanques de água vazios, casa de adobes a ser construída para os membros do Apostolado da Oração e Legião de Maria, época de fazer testes na escola, a picada a precisar de intervenção, pessoas a necessitarem de consultas, a lavra e a horta a precisarem de ser cuidadas… enfim, podíamos continuar, mas já dá para terem uma ideia da azáfama por cá vivida. Mais à frente vão ver um esquema das viagens que o pobre do nosso cavalinho teve de fazer…
Terça a mana Teresa e a mana Sílvia foram a pé até ao bairro da Ngomã atender a uma situação. Um certo menino (o Caetano) que na aflição de apagar o fogo tinha uma faca e sem querer cravou-a na perna. Felizmente a situação já estava a ser supervisionada por um dos promotores de saúde e a recuperação está sendo favorável. Como agradecimento pela visita, foram oferecidos cachos de bananas, dendém, maboques, e até ofereceram uma galinha à mana Sílvia… pior foi o caminho de regresso com morros e atravessar rios e… Ai as nossas ricas perninhas!… Mas voltando às queimadas, infelizmente todos os anos ocorrem incidentes, apesar dos alertas feitos pela equipa e das formações que demonstram que há mais consequências que benefícios. Porém, são uma prática corrente pela população, quer como ferramenta agrícola para destruir o capim e vegetação densa por forma a desbravar as lavras, quer como meio de caça para apanhar animais e também para fazer rejuvenescer novas plantas que servirão de alimento e pasto. É mais uma mudança que se faz “catito a catito” (pouco a pouco).

 No sábado, a mana Sílvia com o avô Filipe e a mana Teresa foram a pé conhecer a lavra do tio Zé Ngombe. É tão distante… E perguntam vocês “porque foram mais uma vez a pé?”, porque para chegar a estes sítios não dá para ir de carro, nem de mota. Foi mais um dia bem passado e no regresso, chuva.

Bom, esquema de viagens e panorâmica da semana, visualizem: segunda, chegada à Donga e 3 viagens ao rio para ir buscar água; terça, deslocação a pé à Ngomã e à tarde mais 4 viagens ao rio; quarta, 3 viagens ao Uquende para transportar as coisas que vinham no Unimog com destino à cantina (safou-nos as crianças que logo se prontificaram para nos ajudar com as cargas e descargas); quinta, mais uma viagem final ao Uquende e à tarde 5 idas ao rio transportar água; sexta, 8 viagens ao rio, 1 à lavra da Teresa, 2 para carregar blocos de adobes, e 1 para lenha; sábado, 4 viagens para carregar adobes, deslocação a pé à lavra do tio Zé, e 1 viagem ao bairro do Aweco para dar boleia a uma família com bebés que andavam debaixo da forte chuva; domingo, após a eucaristia e manutenções ao cavalinho, mais 5 idas ao rio; e, por fim, segunda, 1 viagem até à lavra da mana Teresa seguida da lavra do tio Calei para carregar pedras para a picada (a quem nos acompanha nesta missão, já adivinharam que foram para o sítio do “mamoeiro”), mais 1 viagem até ao sítio do Cucole para transportar um bezerro que sofreu ferimentos no transporte e não conseguia andar mais. Após o almoço, descida para o Sumbe. Mas, as peripécias continuaram… Com a chuva, a picada já colocou as garras de fora e nós, lá fomos descendo, e deslizando, e patinando, e, e,… tivemos um furo! De noite e debaixo de cacimbo, toca a trocar o pneu. Ao passar o Quicombo, em estrada de terra batida, ficámos barrados pelos carros, carrinhas, camiões e autocarros que estavam parados e atravessados de modo a impedir o caminho. Devido à chuva escorregavam e não conseguiram avançar nas subidas provocando longas filas de engarrafamento. Mas o cavalinho é o cavalinho e quando já todos pensávamos que íamos ali dormir, abriu-se uma passagem e por volta 00h44min chegámos á nossa Ondjoyetu.
Na próxima subida ao Gungo, iremos com uma visita bem conhecida do nosso Pe. Joaquim. O seu confrade, Pe. José Luís do Verbo Divino em Luanda irá acompanhar-nos e celebrar connosco o Dia Mundial das Missões, dia 20 de Outubro.
Depois contamos-vos como foi!
Até breve,
Linha da frente. 

(pela pena da mana Sílvia)

6 comentários:

Unknown disse...

Pessoas espetaculares que merecem toda a nossa ajuda

Luís disse...

Força manas e manos. Estamos juntos. Quem me dera estar aí a ajudar...
Um forte. Fraterno e missionário abraço a todos.

Ção Julião disse...

Força linha da frente. Um abraço a todos. 💖

Avantino Beleza disse...

Só o espírito missionário resiste a tanta adversidade.
Estamos juntos
Força!

Ismael Alves disse...

Gente abençoada que merece a nossa admiração.

Tio Serra disse...

ALÔ LINHA DA FRENTE
Muito obrigado pela vossa maravilhosa descrição da Missão realizada.
Muito obrigado pelas fotos que nos ajudam a ver à distancia.
Muito obrigado por contribuírem para a ajuda do povo do Gungo.

O verdadeiro Missionário não volta as costas ás situações complicadas, e vós estais com algumas situações nada agradáveis como as avarias dos carros, mas com a ajuda Divina e o vosso esforço a Missão avança, porque vós sois os verdadeiros Missionários.
Que Deus vos proteja.
Estamos juntos
Um grande abraço Missionário para toda a Linha da Frente.
Tio Serra