terça-feira, março 06, 2018

Processo de Metamorfose


     A missão exige de nós aptidões que nem nós próprios sabemos se temos. Prestar cuidados de saúde nunca fez parte do meu leque de competências, contudo a necessidade aguça o engenho e assim aconteceu comigo. Já sabia de véspera que cuidar da saúde dos camungungos ia fazer parte das minhas funções na missão, contudo, não tendo quaisquer conhecimentos de saúde, a não ser, dizer ao médico onde me dói quando preciso, não considerava que a minha presença na missão pudesse ser proveitosa nesse sentido.

     Ao subir ao Gungo fui conhecendo a realidade daquelas 33 mil pessoas, os postos de saúde são escassos e o acesso a medicamentos é difícil e dispendioso, evacuar um doente para o hospital da cidade implica uma viagem de 7 horas aos solavancos e as ambulâncias reduzem-se ao nosso cavalinho, que por vezes, lá é obrigado a desempenhar essa difícil tarefa.

     De início foi difícil adaptar-me ao ritmo, fazer um diagnóstico, despistar o paludismo, aplicar medicamentos! Pareciam responsabilidades de tal tamanho que faziam o meu coração tremer, com medo de errar ou de não administrar o tratamento mais adequado. Assim, devagarinho, comecei a auxiliar a mana Teresa, essa mana que para ser médica só lhe falta um diploma, e ela com paciência, lá me foi ensinando tudo o que aprendeu também com os outros manos voluntários da saúde.

     A maior dificuldade que encontrei foram os testes de paludismo, e agora? Ter de picar um dedo ao paciente? E às criancinhas!? Que ainda antes de sentirem a agulha já estão a afinar o choro e depois ficam ainda a olhar para nós como se tivéssemos feito a coisa mais cruel do mundo? Já não me bastava saber que estavam a sofrer, que eu, eu própria!,  ainda tinha de lhes causar uma dor maior? O meu instinto protetor não me permitia fazer tal atrocidade.Tive de alterar o significado daquela picada na minha mente, e perceber que aquela picada podia não significar dor mas sim vida.

     Tratar os mais pequenos foi sem dúvida o desafio mais difícil, sobretudo por saber que já necessitei em criança de grandes cuidados de saúde e dispus de tudo o que necessitava. Aqui foi difícil lidar com o sentimento destes pequenos não terem os mesmos direitos que eu. Assim, fui percebendo que o pouco que podia fazer por eles podia-se tornar vital, não importa o quanto sabes sobre medicina, importa só fazer o melhor que podes mediante o contexto em que estás, não podes mudar o contexto, mas podes sempre fazer alguma coisa, por mais pequena que ela te possa parecer é gratificante ver como gestos tão insignificantes, por vezes curam maleitas tão grandes, como por exemplo pôr um pouco de “betadine” e “biafine” sobre uma ferida que quase exibe um osso pode recuperar tal ferimento. Aí entendemos que há uma força superior a nós que constantemente nos ajuda.

     Com esse auxílio ajudar os doentes passou a ser algo muito compensador e estimulante, ser enfermeiro implica fazer das dores dos outros as nossas dores, dos filhos dos outros, os nossos próprios filhos e dos bons resultados das nossas ações, a nossa gratificação. 

Um grande bem-haja a todos!

                   Mana “Andresa”

2 comentários:

Tio Serra disse...

Andreia fico feliz por ver que abraças-te a Missão de corpo e Alma, ser missionário é isso dar-nos a nós no amor aos irmãos que de nós precisam.
Obrigado, um grande abraço para ti e toda a Linha da Frente.
Um abraço Missionário.
Estamos Juntos.
Tio Serra

Anónimo disse...

Olaaá Andreia, Sr. João, Nuno e p. Davide: aproveito para vos cumprimentar e co tinuar a encorajar nesta vossa linda missão nesse lindo pais e com esses irmãozinhos que Deus pos no vosso caminho. Muito ánimo e confianza no Creador e medico de corpo e alma. Que o vosso carinho levem muito irmãos aproximarse de JESUS. Estamos juntos.
Vossa mana Ir. Nancy