A missão exige de nós aptidões que nem nós próprios sabemos
se temos. Prestar cuidados de saúde nunca fez parte do meu leque de
competências, contudo a necessidade aguça o engenho e assim aconteceu comigo. Já
sabia de véspera que cuidar da saúde dos camungungos ia fazer parte das minhas
funções na missão, contudo, não tendo quaisquer conhecimentos de saúde, a não
ser, dizer ao médico onde me dói quando preciso, não considerava que a minha presença
na missão pudesse ser proveitosa nesse sentido.
Ao subir ao Gungo fui conhecendo a realidade daquelas 33 mil
pessoas, os postos de saúde são escassos e o acesso a medicamentos é difícil e
dispendioso, evacuar um doente para o hospital da cidade implica uma viagem de
7 horas aos solavancos e as ambulâncias reduzem-se ao nosso cavalinho, que por
vezes, lá é obrigado a desempenhar essa difícil tarefa.
De início foi difícil adaptar-me ao ritmo, fazer um
diagnóstico, despistar o paludismo, aplicar medicamentos! Pareciam
responsabilidades de tal tamanho que faziam o meu coração tremer, com medo de
errar ou de não administrar o tratamento mais adequado. Assim, devagarinho,
comecei a auxiliar a mana Teresa, essa mana que para ser médica só lhe falta um
diploma, e ela com paciência, lá me foi ensinando tudo o que aprendeu também
com os outros manos voluntários da saúde.
A maior dificuldade que encontrei foram os testes de
paludismo, e agora? Ter de picar um dedo ao paciente? E às criancinhas!? Que ainda
antes de sentirem a agulha já estão a afinar o choro e depois ficam ainda a
olhar para nós como se tivéssemos feito a coisa mais cruel do mundo? Já não me
bastava saber que estavam a sofrer, que eu, eu própria!, ainda tinha de lhes causar uma dor maior? O
meu instinto protetor não me permitia fazer tal atrocidade.Tive de alterar o
significado daquela picada na minha mente, e perceber que aquela picada podia
não significar dor mas sim vida.
Tratar os mais pequenos foi sem dúvida o desafio mais
difícil, sobretudo por saber que já necessitei em criança de grandes cuidados
de saúde e dispus de tudo o que necessitava. Aqui foi difícil lidar com o
sentimento destes pequenos não terem os mesmos direitos que eu. Assim, fui
percebendo que o pouco que podia fazer por eles podia-se tornar vital, não
importa o quanto sabes sobre medicina, importa só fazer o melhor que podes
mediante o contexto em que estás, não podes mudar o contexto, mas podes sempre fazer
alguma coisa, por mais pequena que ela te possa parecer é gratificante ver como
gestos tão insignificantes, por vezes curam maleitas tão grandes, como por
exemplo pôr um pouco de “betadine” e “biafine” sobre uma ferida que quase exibe
um osso pode recuperar tal ferimento. Aí entendemos que há uma força superior a
nós que constantemente nos ajuda.
Com esse auxílio ajudar os doentes passou a ser algo muito compensador
e estimulante, ser enfermeiro implica fazer das dores dos outros as nossas
dores, dos filhos dos outros, os nossos próprios filhos e dos bons resultados
das nossas ações, a nossa gratificação.
Um grande bem-haja a todos!
2 comentários:
Andreia fico feliz por ver que abraças-te a Missão de corpo e Alma, ser missionário é isso dar-nos a nós no amor aos irmãos que de nós precisam.
Obrigado, um grande abraço para ti e toda a Linha da Frente.
Um abraço Missionário.
Estamos Juntos.
Tio Serra
Olaaá Andreia, Sr. João, Nuno e p. Davide: aproveito para vos cumprimentar e co tinuar a encorajar nesta vossa linda missão nesse lindo pais e com esses irmãozinhos que Deus pos no vosso caminho. Muito ánimo e confianza no Creador e medico de corpo e alma. Que o vosso carinho levem muito irmãos aproximarse de JESUS. Estamos juntos.
Vossa mana Ir. Nancy
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