sábado, abril 09, 2022

Primeiras impressões em missão

Com o Pe Denis SVD Em Luanda

                 Depois de uma pequena pausa em Luanda e de uma noite na sede da missão no Sumbe, eis que chega a hora de partir rumo ao mundo que nos espera: o Gungo. Partimos ao final da tarde com o essencial para viver os nossos primeiros dez dias na missão, conduzidos pelo P. David Nogueira que nos foi falando da paisagem, da história e cultura deste povo.

                Dos 130 km que teríamos de percorrer, os últimos quarenta foram a serpentear em picada estreita, ladeada ora de capim bem alto, ora de árvores e vegetação exuberantes.

No Sumbe
na residência Ondjoyetu
                Já pela calada da noite, passando por várias aldeias, o ruido do novo cavalinho branco (o carro da missão) era o anúncio de que algo diferente estava a acontecer. Quem regressava da lavra, carregando à cabeça o produto do seu trabalho, alimento para a família, parava para nos dar passagem e de repente, vindo de um lugar que a escuridão não nos deixava decifrar, surgia um grupo de crianças, felizes e sorridentes acenando e dizendo chaué!...

                Sentir a alegria que a nossa passagem provoca é algo que nos toca profundamente e nos deixa de coração cheio. Um balão, um rebuçado ou simplesmente um adeus é ter como resposta um obrigado cuja autenticidade se sente no olhar de quem o pronuncia; é algo que não se consegue explicar.

                Depois de uma paragem no bairro de Uquende, serpenteando de novo pela picada cerca de mais de uma hora e meia, eis que chegamos à Donga. Acolhidos com cânticos de boas vindas e porque a noite era já uma realidade, cada um se despediu e ficou apenas o silêncio. Um silêncio que nos invade e nos leva a viajar por mundos onde aquele a que estamos habituados se desvanece por completo.

                Após algumas horas de descanso o canto dos galos e os passos de quem, bem cedinho, se dirige para os trabalhos nos campos, anunciam a chegada do novo dia.

Catecúmenos e padrinhos

                A primeira semana na Donga foi tempo para olhar, escutar, sentir e viver intensamente o que os olhos vêem, os ouvidos escutam e o coração sente. Uma tranquilidade que nos deixa perplexos e nos interpela acerca do nosso conceito de felicidade. Tempo para constatar que é possível ser feliz com muito pouco e tomar consciência de que sabemos muito menos do que pensamos saber.

A sementeira de feijão
                O enorme trabalho desenvolvido na missão em ordem a melhorar as condições de vida do povo, foi também motivo de admiração. Desde a prestação de cuidados básicos de saúde, construção de infraestruturas e implementação de vários projetos em ordem à sustentabilidade nas várias vertentes, nomeadamente a agricultura, a pecuária, a cantina onde é possível adquirir coisas básicas, são formas concretas de simplificar a vida deste povo, onde os meios de comunicação são precários.

                O segundo fim-de-semana na Donga foi repleto de atividades pastorais em ordem à preparação de catecúmenos para a grande festa a realizar na Páscoa. A partir da tarde de 6ª feira, dezenas de crianças, jovens e menos jovens carregando o suficiente para confecionar as refeições foram chegando ao espaço da missão. Um verdadeiro acampamento ao ar livre. Espaço de convívio, partilha, oração e aprendizagem que terminou com a celebração da Eucaristia numa igreja literalmente cheia, não somente de presenças físicas mas de ritmo, alegria e fé.

                Ao início da tarde foi tempo de mais uma caminhada de regresso às aldeias de origem o que para uma boa parte seria caminhar até ao dia seguinte.

                Com um adeus até nos voltarmos a encontrar para celebrar a semana santa e a Páscoa, também para nós foi tempo de regressar ao Sumbe, de onde sairemos para celebrar o domingo de ramos numa outra aldeia: a Tuma.

 


Pela equipa missionária

Isabel Cabeleira





3 comentários:

Ção Julião disse...

Que emoção e que saudades "ouvir" este relato! Sensação de "déjà vu" meu Deus!!!! Sinto como se aí estivesse os cânticos e o batuque!!! O bafo quente... para quando a minha volta?...💖

Tio Serra disse...

Boa noite caros UNDJOYETUS.
Obrigado pelo vosso relato de viagem pois isso faz reviver um passado maravilhoso.
Quero desejar-vos uma Santa semana Santa com esse maravilhoso povo e com os Catecúmenos que se preparam para o Santo Batismo.
Um, grande abraço a todo povo, não esquecendo a Linha da Frente.

Um abraço Missionário.

Estamos juntos.

Tio Serra

António Santos disse...

Grande Trabalho de Coração pela Obra Missionária e por aqueles que mais precisam .
Uma Santa Páscoa .
Parabéns Padre David pelo seu trabalho pelos mais necessitados.
Que Deus o Ajude muito na sua caminhada de Vida .
Amen.