terça-feira, junho 14, 2022

Até já, Donga!

 

            

            Rumo à Donga, no passado dia 4 de junho, pernoitámos no Uquende, onde fomos recebidos em grande euforia, apesar da hora e de ser já noite escura. Uma alegria para quem recebe os missionários, mas principalmente uma grande emoção para quem se sente sempre tão bem recebido e acarinhado pela comunidade.

            Além do mais, desta vez tivemos a presença de um bom amigo da missão, o Vítor Moniz, mentor do Volta a África e membro do grupo “Os Manda-chuva da Donga”, que nos acompanhou na subida à Donga.

            O domingo ficou marcado pela celebração da eucaristia na capela que, apesar de pequena para todos os que quiseram marcar presença, consegue sempre ser um imenso lugar de partilha, amizade e emoção.

            Depois de almoço, rumámos à Donga, ansiosos por iniciar mais uma semana de trabalhos que foi, para mim, intensa e cheia de sentimentos contraditórios...

            Por um lado, tentar deixar o máximo de trabalho orientado, desenhar com o Padre David pormenores construtivos para se terminar a estrutura para a cobertura da futura casa de apoio aos catequistas (que está mesmo quase!), percorrer e reconhecer bem o terreno, a sua topografia e singularidades para melhor implantarmos os futuros edifícios, deixar informação para ser partilhada com a comunidade, tentar desenvolver ao máximo o projecto que ansiamos ver crescer. Tudo isto entre consultas, preparação da Pastoral da Criança e outras actividades inerentes à missão.

 

            Por outro lado, a nostalgia de uma despedida que se aproximava a cada pôr-do-sol, a sofreguidão de querer aproveitar cada segundo de colo e partilha, de cada riso e abraço e da imensa alegria que todos os dias me invadiu de manhã à noite.

            Agora é hora de voltar a casa...abraçar os meus filhos e os meus pais de quem tenho tantas saudades, reunir os amigos para partilhar as aventuras e dizer a todos o quão bonita é esta Missão, o quão lindo é o Gungo e deixar em todos a vontade de virem também deixar aqui parte do seu coração!

            Mas não têm que se preocupar com isso...porque aquilo que levamos é imensamente maior!

 

            Até já, Donga!

 

Pela Equipa Missionária

Cristina Mão-de-ferro

sábado, junho 04, 2022

Subir ao Gungo...


Dia 24 de maio foi finalmente dia de subir ao Gungo, com paragem no bairro Eval Guerra, para tirar uma fotografia junto à placa que indica a direcção da Missão e que marca o fim da estrada alcatroada e o início da picada.

Até aqui, a viagem foi tranquila, adoçada pelas músicas que se alternam no rádio do cavalinho e que os vários missionários têm juntado às escolhas do Padre David, sempre que chegam.

 O início da picada foi uma boa surpresa para quem, como eu, vinha com as expectativas muito baixas em relação às suas condições. Ainda assim, foram quatro horas e meia de caminho por entre vegetação densa e verde e o caminho cheio de obstáculos, que com muita experiência e agilidade o Padre David conseguia transpor.


 A meio do caminho parámos no Uquende para ver a construção da nova igreja que está quase acabada e que tem a inauguração prevista para outubro deste ano.

A igreja, assim como outras construções que se estão a desenvolver na missão são realizadas em BTC, bloco de terra comprimida, num processo verdadeiramente sustentável. A terra que é recolhida a metros das construções, o mão-de-obra local e todo o processo construtivo que não consome energia além daquela gasta pelo motor que é usado na máquina desenvolvida de propósito para este fim.


Vista a igreja e depois de algum contacto com a realidade da aldeia voltámos a subir o Gungo a caminho da Donga onde se encontram as estruturas da Missão.

 Os dias na Donga são pequenos para tanto trabalho que há a fazer...e não chegam as mãos nem a vontade para as necessidades, mas a verdade é que isso não nos pode desanimar e, pelo contrário, dá-nos alento para fazermos o que for preciso para avançar sempre um pouco mais.

 

Assim, entre consultas, acompanhamento da obra da casa de apoio aos catequistas, reuniões de trabalho e conversas sobre o projecto da missão, passámos a maior parte da semana, pontuada pela minha visita a Cabinda onde participei nas aulas dos meninos da aldeia, pelo Conselho Permanente que aconteceu no sábado, dia 28 de maio, onde nos reunimos com os catequistas e foram partilhados problemas e preocupações da comunidade e pela celebração do Domingo da Ascensão do Senhor.

 Agora, depois de alguns dias no Sumbe, na sede da missão, preparamos o regresso ao Gungo para mais alguns dias de trabalho e contacto com a comunidade. Para mais incríveis nasceres-do-sol, pores-do-sol e tantos momentos de afecto e partilha.

Até já!!

 

Pela Equipa Missionária

Cristina Mão-de-ferro

Dois meses na Missão Católica do Gungo em Angola



                 Dois meses no Gungo com o Grupo Missionário Ondjoyetu, foi antes de mais a concretização de um sonho, várias vezes adiado pela pandemia.

                Não importa a origem da força que nos move. O importante é sentir essa força, reconhecer o que nos traz alegria e paz interior, liberdade e coragem para agir. Partir, sem grandes planos e objetivos, mas de coração disponível para viver o desafio de aceitar o que vier. Este foi sem dúvida o foco principal.

                Em cada dia passado em Angola, senti a força de uma frase do escritor moçambicano Mia Couto que passo a citar- “Só é olhado pelo céu quem olha as estrelas”. Em cada dia e nas mais diversas situações em que tantas coisas positivas aconteceram, senti esse olhar, que quero acreditar ter vindo do céu.

                 De facto, olhar as estrelas no silêncio do Gungo com tudo o que aquele enorme céu tem para oferecer é receber do Alto muito mais do que possamos imaginar.

                Olhar o pôr-do-sol naquele lugar, é sentir que uma luz Divina nos invade a alma como uma bênção, nos impõe silêncios mágicos em que sentimos o significado de “ser feliz com muito pouco”.

                No Gungo, aparentemente no meio do nada, é possível sentir tranquilidade e paz. Encontrar aventura e surpresa em cada quilómetro de picada percorrido, vida e beleza em cada quadro vivo que fica gravado na nossa memória.

                 Construir relação e comunicação em cada encontro feito de conversas, sorrisos rasgados, mãos agradecidas, olhares meigos de crianças sedentas de atenção e carinho.

                Mais importante que a avaliação do serviço que efetivamente prestei, foi sentir que o verdadeiro sentido da existência está em pequeninas coisas que podem fazer toda a diferença na relação entre povos, apesar da diversidade de hábitos e culturas. Perceber que a partir do pouco ou muito que fazemos e somos, se pode crescer e fazer crescer.

                Nesse sentido, o saldo foi francamente positivo. Regressei de coração cheio e agradeço a todos quantos proporcionaram a minha aproximação a este grupo missionário, a quem felicito na pessoa do Padre David Nogueira, pelo enorme serviço que actualmente presta à melhoria das condições de vida das gentes do Gungo.

                Termino recordando as palavras do Papa Francisco “Seremos julgados com base no amor. Não sobre os sentimentos, mas sobre as obras; sobre a compaixão que se torna proximidade e ajuda atenciosa”.

                Neste espírito, é tempo de projetar o futuro. Prestar atenção aos sinais que o nosso coração dá e acreditar que é possível fazer sempre mais em ordem à construção de um mundo melhor. O futuro a Deus pertence….

                Isabel Cabeleira