segunda-feira, agosto 28, 2017

Missão Alentejo 2017 - testemunho

De 21 a 30 de julho, uma equipa constituída por 13 elementos assegurou a missão anual do Grupo Ondjoyetu no Alentejo, desta vez na região de Nisa, com foco nas aldeias de Tolosa, Arez e Amieira.

Aqui fica, sobre esta missão, o testemunho da nossa missionária Emanuela Dias (publicado no Jornal Presente):


Missionários sem barbas longas...

Como missionária, a oportunidade de integrar a missão que o Grupo Missionário Ondjoyetu faz, todos os anos, ao Alentejo, foi um desafio e uma oportunidade. Um desafio por ter sido a primeira vez e por ter levado comigo os meus filhos de 6 e 15 anos; uma oportunidade porque me permitiu partilhar e aprofundar, com eles e os restantes membros do grupo, os valores nos quais se fundamenta a nossa vida.

O Grupo Missionário Ondjoyetu comemora, este ano, 18 anos de missão em Angola e 15 anos de missão no Alentejo. Em Angola está uma equipa permanente de leigos e padres – é a chamada “linha da frente”. No Alentejo, fazemos sempre uma semana de missão. O grupo missionário está a crescer e prova disso são os “1000 e Tal Amigos” que temos por todo o lado, e não podíamos deixar de visitar os nossos amigos no Crato, aquando da nossa visita às Irmãs Carmelitas Descalças, no Carmelo de S. Nuno de Santa Maria. Foram momentos muito bons de oração, partilha e diversão, que nos permitiram recuperar forças.

Se as necessidades das populações africanas que a “linha da frente” apoia já são sobejamente conhecidas – cuidados básicos de saúde, higiene, alimentação, escolaridade e formação, entre outros –, as do Alentejo são diferentes, mas não menos urgentes, intervindo numa população marcadamente envelhecida, isolada e tantas vezes esquecida.

No Alentejo interior, há poucas crianças, pessoas com reduzida mobilidade, muitas vezes a viverem sozinhas não apenas nas suas casas, como até serem as únicas nas suas ruas... Mas os corpos envelhecidos e os rostos moldados pela ação extrema do calor não diminuíram a hospitalidade destas gentes nem o desejo de um aprofundamento na fé. Melhor acolhimento seria impossível! Após a natural desconfiança inicial, abrem-nos o coração e contam-nos os seus desgostos, lamentos e tristezas. Precisam de companhia, de uma palavra amiga, um miminho… Foi para isso que viemos e é nesses momentos que tudo faz sentido para um missionário: esta entrega sem nada em troca. Não estamos ali por nós, mas por Ele. Somos apenas instrumentos na ação de um amor maior. Ao escutar estas pessoas, arranjamos sentido e respostas que só pela ação do Espírito Santo podem ser expressas e ter explicação. Abrimos a Bíblia. Lemos o Evangelho. Rezamos juntos e, se necessário for, choramos juntos também. Damos a mão, um abraço, um beijo. Voltamos a ouvir e comove-nos o facto de, daquelas duras vidas, emergir uma fé que nos põe a um canto. E já não queremos sair dali. Mas temos que continuar, pois há sempre mais alguém que de nós precisa e que já nos espera à porta.

Entretanto, a população começa a conhecer-nos e desmistificam-se pré-conceitos… Afinal, os tais missionários são pessoas normais, não vieram de barba longa e vestes até aos pés! São como nós e até têm crianças e jovens e tudo! Nós, missionários (os tais que afinal não têm longas barbas!), propomos vigílias de oração, Missa, procissão, encontros com crianças e jovens crismandos. As igrejas enchem-se, mas é necessário continuar a formação (a deles e a nossa!). Jamais esqueceremos estes nossos irmãos, as histórias da D. Maria, do sr. António ou da D. Maria Fernanda. A eles e a todos os outros, o nosso profundo agradecimento por tudo!

Emanuela Dias

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