Mudar o rumo do quotidiano, dar aos outros um pouco da nossa fé e do nosso tempo, foi o mote que nos levou à Missão ONDJOYETU, na Comuna do Gungo da Diocese do Sumbe, em Angola, superiormente dirigida e animada pelo Padre David Nogueira Ferreira, proveniente da Diocese de Leiria-Fátima.
A Casa da Pedra Um, no Sumbe, onde inicialmente fomos recebidos, situa-se num bairro em que a terra polvilhada de pó acolora casas de adobe, dá cor de suor às pessoas que andam e conversam nas ruas, na praça da fonte ou no mercado aberto em que o chão faz de bancada e de tudo se vende: farinha de milho, ovos, tomate, verduras, óleo de palma, pilhas, rádios, lanternas, batatas, mandioca, peixe seco, vestuário, calçado, enfim, aquilo de que as pessoas, na condição em que vivem, mais necessitam para o seu dia a dia.
A Casa da Pedra Um, como viemos a verificar, desempenha um papel vital na vida da Missão, pois, aí se faz toda a logística e armazenamento dos bens que são depois encaminhados para a sede da Missão, situada no alto da Donga, à "curta" distância de 130 kms da cidade do Sumbe, cujos 50 kms finais se tornam um verdadeiro calvário de estreitos caminhos de terra batida entre picos de íngremes subidas, salpicos de rochas graníticas que mordem, picam, furam e escorregam, apenas permitindo a passagem de pessoas, animais e veículos motorizados adequados à sinuosidade e precariedade do trajecto (motorizadas e jipes), perdurando o calvário, se nada de grave acontecer, como avarias de motor, furos, enjoos ou paragens de saudação e cumprimentos, a média normal de 8 a 10 horas.
Como é bom, Senhor, viver com as gentes que puseste no nosso caminho de Missão.
Ao mesmo tempo que íamos convivendo com as pessoas que vivem na Missão, logo nos apercebemos que a mesma desempenha um papel fundamental na formação e educação cristã das gentes que vivem na Comuna do Gungo, ocupando, em zona de montanhas e planaltos, uma área aproximada de 2.100 kms2, com a extensão de raio máximo de 82 kms.
Ao mesmo tempo, servida pelo Padre David, por alguns catequistas, trabalhadores e voluntários, a Missão desempenha, no contexto territorial em que se integra, um relevante e meritório papel nos sectores da educação e formação humana, instruindo crianças, jovens e adultos; da acção social, prestando assistência médica e medicamentosa a pessoas doentes e fragilizadas, e socorrendo com alimento, vestuário e calçado as pessoas mais pobres, famintas e doentes.
A Missão, através de algumas actividades que vai exercendo, tem ajudado a melhorar as condições de vida e habitabilidade das gentes do Gungo, requalificando o fabrico de materiais de construção (tijolo de BTC), fabrico de argamassas enriquecidas, captação, condução e armazenamento de água numa zona dela carenciada, requalificação dos sistemas de cultivo de bens essenciais (milho, batata, feijão, hortas), servindo de agente regulador de preços que muito tem contribuído para a melhoria do rendimento e sobrevivência das gentes do Gungo e das suas comunidades.
E, nesse contexto, foi bom ver como se cuida dos gados (porcos, cabras, galos, galinhas), se zela a terra de cultivo (lavras) da batata, milho, feijão, verduras, tomate, pepino, abóbora e outros produtos; se implementou e zela a pequena oficina de tijolos de BTC que tem permitido a edificação de casas e edifícios mais sólidos, robustos e mais resistentes à humidade e às águas da época das chuvas; a mana Teresa a socorrer doentes, medindo temperaturas, dando e ministrando medicamentos; o avô Filipe mestre de cozinha no sábio comando da confecção de refeições; a voluntária e atenta Sílvia a coordenar todos os trabalhos mais pormenorizados das casas, da cozinha, da capela, da logística de abastecimento; o voluntário Humberto e o motorista Mário a, numa noite escura, socorrerem uma jovem parturiente que deu à luz na Donga uma criança prematura de cerca de 7 meses, conduzindo, a toda a pressa e pela escurecida picada da noite, a mãe e filha ao Hospital do Sumbe, num dia e meio de viagem que terminou com a notícia de que mãe e filha estão bem! Sem dúvida, nessa noite, por intercessão de São José, Padroeiro da Missão, e de Nossa Senhora de Fátima, Deus protegeu sobremaneira aquela jovem mãe e a sua filha prematura.
No sábado, 13 de Julho, foi um fervilhar de trabalho na sede da Missão. O Grupo da UASP, sob orientação do Padre David, da Sílvia e do Humberto, dedicou-se à execução de tarefas diferenciadas.
Enquanto alguns se ocupavam da melhoria das instalações (limpeza e arrumação da oficina de tijolos BTC, limpeza dos alicerces do novo edifício destinado ao catequista para posterior isolamento e pintura, subida do tecto da latrina, limpeza da zona adjacente ao tanque de água), outros dedicaram-se à formação de acólitos, outros a trabalhos de costura e outros à formação bíblica de catequistas e à preparação dos catecúmenos.
O Domingo, 14 de Julho, dia do Senhor, iniciou-se com as laudes a que se seguiu a missa dominical, presidida pelo Padre Armindo Janeiro e concelebrada pelo Padre David, Pároco da Missão, nela participando centenas de pessoas, muitas delas jovens, vindas de diversos bairros da Paróquia da Donga, e que foi celebrada em umbundo (língua nativa local) e português, tendo sido brilhantemente animada por vozes naturalmente sonantes e musicais, cheias de ritmos e de profundo sentido cristão, retornando às suas casas de coração cheio para um viver mais solidário e feliz.
Como nota final, o espírito de missão está bem presente na acção e nas atitudes dos servidores da Missão, tendo, à cabeça, o Padre David, sacerdote apaixonado que se dedica, de alma e coração, à causa da missão, à evangelização do povo e das gentes que lhe estão confiadas, sabiamente coadjuvado pelo conjunto de voluntários que, de tempo em tempo, o auxiliam nas tarefas da missão, sejam elas no campo religioso e espiritual, sejam elas mais centradas na acção social, humanitária, educacional ou laboral na criação de estruturas físicas que possam melhorar as condições da Missão, tornando mais profícua a sua acção missionária, alimentada pela oração e pelo sentido de ajudar e bem servir as populações e comunidades da Comuna do Gungo e da Diocese do Sumbe.
Pedra Um, 16 de Julho de 2019
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