
Hoje de manhã telefonei para Angola e falei com a Linha da Frente. Estavam a preparar a bagagem para depois partir em direcção à Tuma, uma das muitas aldeias do Gungo, ficando esta na zona baixa (pois a maior parte do Gungo situa-se em zona montanhosa) e também uma das mais próximas do Sumbe. É lá que vai ser celebrada a Páscoa. A equipa regressa ao Sumbe no domingo à noite. Como sempre, estavam animados e pediram para dar cumprimentos a todos os familiares e amigos.
Este contacto neste dia e o facto de a equipa missionária ir para a Tuma trouxe-me à memória algo que se passou faz hoje exactamente 14 anos. Dia 31 de Março de 1996 era dom
ingo de Ramos. Durante toda a semana chouveu intensamente. Nesse domingo de manhã partimos para a Tuma, como já estava programado. Além de mim, ia também o catequista Fernando Fitela e a irmã Ida, da Sagrada Família. Enquando viajámos pelo asfalto a viagem correu bem, embora se vissem muitos estragos causados pelas fortes chuvadas. As dificuldades a sério começaram quando entrámos na picada que estava cheia de buracos feitos pela água que escorria em grandes quantidades e enormes lamaçais. Depois de muita luta mantida ao longo de mais de duas horas, lá conseguimos chegar às proximidades da Tuma. Mas, já mesmo perto, deparámo-nos com um cenário completamente novo e inesperado: o pequeno ribeiro que passava debaixo da ponte transformara-se num imenso rio onde a água dava pel
o peito. E agora?


Não havia barco nem possibilidades de mudar de roupa.
Como a experiência é a mestra da vida, andávamos sempre apetrechados com ferramentas. Não faltavam pregos e martelo. Lá foram procurar dois paus e duas tábuas na aldeia. Fez-se uma tipóia e lá passámos nós aos ombros daqueles generosos voluntários.
A travessia não foi fácil. O chão incerto fazia adivinhar um passo mal dado e um mergulho não desejado. Mas, graças a Deus, tudo correu bem.
Tudo o que precisávamos para a missa foi transportado à mão, inclusivé a bateria
do jipe e sistema de som.

Celebrámos a missa numa capela que ainda não tinha o telhado todo colocado, fizemos a habtiual reunião com a comunidade, almoçámos galinha com funge e regressámos à outra margem novamente de tipóia.
Queira Deus que desta vez a equipa da Linha da Frente tenha uma viagem menos atribulada.
Um abraço para todos e boa Semana Santa.
P. Vítor Mira