sexta-feira, abril 25, 2014

Páscoa 2014


Olá, muito boa noite e votos de Santa e Feliz Páscoa 2014.
Finalmente é possível saudar-vos e partilhar connosco um pouco do que foi a nossa Páscoa deste ano.

Na terça-feira santa participámos na Missa Crismal – aqui, devido às grandes distâncias, é antecipada para permitir aos missionários estarem com as suas comunidades no Tríduo Pascal.
Na quarta ainda fomos fazer compras e começámos a organizar as bagagens e a carregar a “Mula” e o “Cavalinho”. O plano era sair nesse dia, mas tínhamos tanta bagagem que o tempo foi passando e nem à hora que deveríamos chegar à Donga conseguíamos sair do Sumbe. Por isso resolvemos sair no outro dia de madrugada.

O despertar foi por volta das 4 h. da madrugada, ainda bem escuro. Quando a aurora anunciava os seus esplendores saíamos da Ondjoyetu. Após algumas paragens por motivos diversos: boleias, carregamento e descarregamento de encomendas, saudações, recados, notícias, curativo ao Neto… chegámos à Donga, sede da missão, por volta do meio-dia. Já por ali estava muita gente.
Logo que pudemos começámos as nossas atividades: atendimento de doentes, atendimento de fotocópias, preenchimento de documentos para os sacramentos, confissões, encontros formativos ao nível da fé, funcionamento da cantina da missão… Mas à noite todos nos reunimos naquele que já era um pequeno salão para a celebração da missa do lava-pés.

A sexta-feira santa, sendo o dia da celebração da Paixão do Senhor, foi mais dedicado à catequese, preparação da via sacra, confissões e também alguns encontros de formação para os que iam receber sacramentos. Entretanto, a fila para o atendimento de consultas continuava igual, por mais gente que fosse atendida por sinal por uma engenheira civil, a Ana Sofia.
Na parte de tarde fizemos a Via Sacra animada pelos jovens sob a orientação da Deolinda. As várias estações foram representadas em cima da carroçaria do camião Unimog, o que permitia que toda a gente visse. As pessoas seguiram aquele ato de piedade com grande atenção.
Ao fim da tarde fizemos a celebração da Paixão do Senhor, e já teve que ser no exterior do salão tão grande era o número de pessoas que já ali estava presente. A chuva ainda ameaçou, mas permitiu terminar a celebração.

O sábado foi um dia de realização de várias tarefas, aproveitando a presença de tanta gente na Donga. As pessoas dividiram-se em grupos e realizaram as seguintes tarefas: arranque de pedras para as construções futuras na missão, busca de lenha, preparação do local da celebração de sábado e domingo, sacha da lavra, descasca e debulha do milho da lavra, entre outras tarefas de menor dimensão.
A parte de tarde já serviu mais para a preparação das celebrações com ensaios e preparativos de documentos. Mas era já impressionante ver as centenas de pessoas que por ali estavam, que improvisavam as suas cozinhas e locais de dormida, que se saudavam, dialogavam, riam. Sentia-se a missão com vida, com muita vida, a mexer de verdade. E pelos caminhos continuavam a chegar pessoas de mota com as suas trouxas amarradas ou a pé e aí eram sempre as senhoras que traziam as suas enormes trouxas à cabeça para ali passarem aqueles dias.
A missa da Vigília Pascal fez lembrar uma garrafa de champanhe quando a rolha sai a grande velocidade e o espumante sai em esfuma que anuncia a festa. Os batuques, cansados de esperar, sentiam o calor de mãos ágeis que lhes davam vida e batiam o compasso de cânticos interpretados a vozes que saiam com a naturalidade da água de uma nascente. Houve festa, alegria, expressão de fé não só por aquele momento como por toda a envolvência, a começar pelo esforço da deslocação. Muitas famílias estavam “incompletas” porque os outros tiveram que “ficar na lavra a espantar macacos”. Corolário de toda a festa, o batismo de 24 catecúmenos, entre adolescentes, jovens e adultos, e a sua primeira comunhão; alguns ainda ficaram na espera ansiosa do seu matrimónio cristão no dia seguinte tal como o batismo de seus filhos.
A noite foi curta e para muitos passada ao relento; era tanta gente que nem o salão, varanda da casa da missão, duas novas casas construídas, um novo armazém e ainda uma grande tenda improvisada chegaram para dar abrigo a alguns. Mas nem por isso arredaram pé.

O domingo foi a continuação da festa. Na missa da Páscoa nasceram mais 16 famílias cristãs, entre elas a do Ezequiel, um jovem ligado à missão desde o ano 2007. E também nasceram para a fé 31 crianças, filhas destes casais.
Após a missa foi a debandada quase geral. Mas os de mais longe tiveram que ficar para o dia seguinte porque a caminhada era de muitas horas. Também a equipa teve que ficar e só na segunda à noite chegou ao Sumbe, cansada, mas com o coração bem cheio de alegria pascal.

Nesta sexta-feira iremos a Luanda levar a nossa mana Ana Sofia que termina um tempo de missão de quase três anos e a quem muito agradecemos por toda a dedicação e tudo o que deu de si a este projeto e a este povo. Desejamos-lhe um bom regresso e as maiores felicidades para os seus projetos e que Deus a abençoe.

Um abraço e continuação de santas festas pascais.

P. Vítor Mira

4 comentários:

Inês Pereira disse...

Que descrição linda... por momentos regressei aí novamente para celebrar a Páscoa. Uma Santa e Feliz Páscoa para todos... Aleluia Cristo Wapinduka otchili!

Estamos Juntos

Mana Inegi*

Tio Serra disse...

O meu muito obrigado ao Pe. Vítor e a toda a equipa que viveu esse tríduo Pascal.
O relato feito pelo Pe. Vítor foi tão autentico que ao lelo, me imaginei a viver esse belo tríduo Pascal, com muitas saudades de todas as coisas e das maravilhosas pessoas que passam pela sede da missão Donga.
Santa Páscoa para todos, que o Espírito Santo derrame muitas bênçãos sob todos vós.
Um abraço missionário
Estamos juntos.
Tio Serra

Anónimo disse...


Olá, a todos!

Comove-me o modo como este povo vive a Páscoa de um modo autêntico.
Eu limitei-me a participar na Quaresma, na Sexta-feira Santa e no Domingo de Páscoa. Ao ler, e acordar com o som "da garrafa de champanhe" senti-me pequenina e mesquinha.
Mais uma vez, agradeço a todos os membros da equipa o esforço que fazem para partilhar connosco o tempo, a "internet" e as vivências da "linha da frente".

Sempre convosco nas minhas orações.

ana carreira

David Nogueira disse...

Wapinduka ochili (Ressuscitou verdadeiramente). Os batuques certamente ribombaram. A alegria da Ressureição manifestou-se.