sábado, junho 07, 2014

Vasos de Barro

No ano 2012 senti necessidade espiritual de dedicar algum tempo à Missão Diocesana Ondjoyetu, em Angola, mais propriamente nas montanhas do Gungo.
Conhecia o Grupo desde a sua formação, colaborava nas suas iniciativas e, logo que me foi possível, integrei-me nele com mais assiduidade.
Após alguns anos de caminhada nesta Missão, fiz a preparação adequada e parti confiante de que a minha vivência com aquele povo iria ser profícua para ambas as partes.
Chegada ao destino recebi, aí também, diretrizes no que respeitava às atividades que, dentro de dias, iríamos desenvolver nas aldeias.
Do dia 26 a 28 de Outubro vivemos com o povo da Chitunda, aldeia bela, tranquila, à semelhança das que já tinha visitado; povo simples, afável, genuíno, dedicado e grato para com os missionários, alegre e com uma fé que sabe louvar e agradecer a Deus, sempre em ambiente de festa.
Num dos encontros de formação, o Superior da Missão, naquela altura Sr. Pe. Vítor Mira, surpreendeu-me quando transmitiu aos participantes o meu desejo de trazer, como recordação, uma peça de artesanato do Gungo.
Perguntando se, nesse local, haveria alguém que se dedicasse àquele tipo de trabalho, foi respondido que não.
Agradecimento feito, deu-se continuidade à reunião, que terminou com uma oração e um cântico, como é hábito.
Dois dias depois, o "Pai” Luís Zeferino, senhor que faz questão em confecionar as
nossas refeições, ao ver-me, pela manhã, acenou-me para que me aproximasse, o que ele fez também.
No momento do encontro, estendeu as mãos, que serviam de berço a um volume envolvido num papel, material raro por aqueles lados.
Disse-me, então: "Avó Inês, trago aqui, para lhe oferecer, duas coisas que a minha esposa fez para si." Eram dois potes de barro. Fiquei abalada, confesso, com a inimaginável surpresa, com o cuidado que ele pôs em transmitir à esposa o meu desejo, que passou a ser, também, o seu desejo.
Pareceu-me inacreditável estar a viver aquele momento tão delicioso, tão significativo, tão fascinante...
Os corações daquele casal uniram-se para satisfazerem o anseio duma missionária que estava com eles pela primeira vez, que não conheciam de lado nenhum, levando-os a "meter mãos à obra". O que dois dias antes era impossível, surgia, agora, como um milagre!
Perguntei pela esposa, não só para lhe agradecer como para lhe dizer quão belos os potes de barro eram e que iriam merecer a minha maior estima entre as peças que decoravam a minha casa.
Passariam a ser, até, as peças mais valiosas.
Hoje, olho com frequência para os dois objetos, recordo esse momento de entrega daquilo que, não se tendo, se inventa, só para alegrar o outro, porque se ama o outro!

Maria Inês Lourenço

2 comentários:

David Nogueira disse...

Obrigado avò Inês pela partilha e ao Pe Vítor por "postar".
Continuação de boa missão onde quer que cada um esteja. Por terras de Rhode Island Vamos continuar o apelo missionário neste fim de semana.

Anónimo disse...

É verdade, quando gostamos de alguem que sabe cativar o nosso coração, fazemos o impossivél para que esse alguém tão especial esteja contente.Deus quere cada dia cativar o nosso coração.
Obrigada avò Inés, é bonita a sua mensagem.